Três gatos, residentes na Escócia, Inglaterra e Canadá, passaram, respectivamente, 13, nove e cinco anos perdidos, e tiveram um destino comum nos últimos dias: foram reencontrados por seus tutores. O que levou a essa coincidência estava sob a pele dos bichanos: microchips para gatos.
Os reencontros — que surpreendem pela semelhança — ganharam destaques, separadamente, na imprensa britânica e canadense. Sou Gato reúne agora essas duas histórias recentes, que mostram como a tecnologia — que custa entre R$ 100 e R$ 200 no Brasil — pode ajudar tutores a terem seus bichanos desaparecidos de volta.
Desaparecida há 5 anos, gata voa 2 mil km para rever família
A gata siamesa Kiki, 13 anos, ganhou as manchetes da mídia canadense no domingo (3), após ser encontrada faminta em meio à neve e ter que pegar um avião para reencontrar a família — em uma viagem de mais de 2 mil quilômetros. A gatinha estava desaparecida desde 2017.
A gata havia sumido de sua casa na gelada cidade de Edmonton, com cerca de 1 milhão de habitantes. Gelada, mesmo: em dezembro passado, quando Kiki ainda estava perdida pelas ruas, os termômetros chegaram a -41ºC.
Os tutores de Kiki, logo após seu desaparecimento, colaram cartazes em várias regiões da cidade, distribuíram panfletos e bateram de porta em porta. As buscas duraram meses e não deram resultado. Um ano e meio após o desaparecimento da gata, em meados de 2018, a família se mudou para Ontário.
“Nós meio que perdemos a esperança de encontrá-la naquele momento. Também tínhamos muitos coiotes que moravam no bairro e estávamos muito assustados com isso”, disse ao site Global News a tutora de Kiki, Elizabeth Antev.
Após a mudança, Elizabeth se recusou a trocar o chip de celular para um com código de área de Ontário, contrariando o marido. O motivo: o número antigo era o mesmo que estava no microchip da gata, e o coração de mãe impedia perder a esperança de reencontrar Kiki.
Nesse intervalo, a gata desaparecida foi parar na casa de Hana Kadri em Rapperswill — num bairro que fica a menos de 10 minutos de carro de onde ela morava. A moradora viu pelas câmeras de vigilância do quintal a gatinha andando no gelo e se compadeceu: começou a deixar comida do lado de fora.
Kiki passou a visitar três vezes por dia a casa de Hana, para comer. Até que a moradora, com a ajuda de um vizinho, conseguiu pegar a gatinha e levá-la ao veterinário. O médico localizou o microchip, e lá estava o telefone da tutora. “Depois de cinco anos, recebi a ligação do veterinário dizendo: ‘Estamos com a Kiki’. Comecei a chorar, fiquei em choque”, diz a tutora.
Um amigo da família levou Kiki do veterinário para o Aeroporto Internacional de Edmonton, e ela foi colocada em um voo para Ontário e, finalmente, voltou para seus donos.
O vídeo da reportagem do site Global News sobre toda essa história de Kiki está abaixo. Além de depoimentos, a reportagem traz vídeos gravados por moradores, que mostram a gata, perdida, buscando comida em meio à neve. Dica: na tela abaixo, o segundo ícone (da esquerda para a direita) no canto inferior direito, ativa as legendas. Elas serão geradas automaticamente em inglês, mas você pode clicar no ícone que tem formato de engrenagem e solicitar a tradução automática para português.
Gato volta para casa após 9 anos e enredo policial
“Em um conto digno de romance policial, um gato sortudo se reencontrou com sua família após nove longos anos”, descreveu o tabloide britânico Metro, na edição de sábado (2).
O gato que passou quase uma década desaparecido é Basil, hoje com 15 anos. O bichano sumiu de casa em Ilford, leste de Londres, em 2012.
Assim como no caso da gatinha canadense, os Wilby, família de Basil, colaram cartazes na vizinhança e bateram em portas em busca de pistas do gato. Sem sucesso em encontrar o felino, a família acabou se mudando de casa.
O que os Wilby não imaginavam é que, nos últimos meses, uma aposentada escocesa, duas ONGs especializadas em resgate de gatos e uma investigadora de polícia aposentada haviam trabalhado juntas por Basil — tentando desesperadamente rastrear seus donos.
A pivô para que o gato idoso voltasse para casa foi a senhora Paddy Prentice, de 90 anos, que mora no mesmo bairro em que o gato desapareceu. Ela disse aos repórteres que Basil começou a visitá-la em outubro do ano passado. “Ele era adorável e muito amigável, mas eu já tinha um gato e não podia cuidar de outro. Tentei entrar em contato com o veterinário em princípio”, disse.
A idosa ouviu do veterinário que o mais correto seria buscar ajuda de uma ONG. Ele indicou a Meows Kitten and Cat Rescue, que examinou o gato e descobriu que ele tinha um microchip.
O problema foi que a família se mudou e o telefone de contato também estava desatualizado. A entidade pediu a ajuda de uma outra ONG, a Cat Squad, e ambas passaram a publicar a foto do gato em suas redes sociais.
Uma das postagens das ONGs foi vista pela investigadora aposentada Mary Redbourn, enquanto relaxava em um café de Londres. Mary passou sua vida trabalhando como detetive da Polícia Metropolitana, pegando criminosos e liderando investigações de assassinato. Então, ela decidiu tirar o pó de suas habilidades quando viu o post sobre Basil.
“Eu sou uma amante de gatos e odeio a ideia de eles desaparecerem, então, decidi me envolver e tentar um novo desafio. Eu usei o Facebook para iniciar a busca, mas o perfil do dono não estava ativo, o que foi o primeiro problema”, disse a investigadora ao jornal Metro.
Ela disparou mensagens para conhecidos e desconhecidos, e num intervalo de uma hora e muita intuição, a investigadora aposentada já tinha em mãos o contato dos antigos donos de Basil.
Vera, tutora de Basil antes do sumiço, achou que era um trote ou uma tentativa de golpe quando recebeu a ligação da investigadora. “Parecia irreal, eu honestamente pensei que era algum tipo de golpe para começar. Foi realmente difícil de compreender porque não esperávamos isso depois de tanto tempo”, disse aos jornalistas. “E é um lembrete de como é importante colocar um microchip no seu gato e atualizar os endereços”, reconheceu.
Basil, a exemplo da gatinha canadense, agora está de volta à sua antiga família, após beirar uma década de sumiço. Sem os microchips, esses reencontros não teriam acontecido.
Gata desaparecida há 17 anos é localizada na Escócia
Não menos surpreendente que as histórias de Kiki e Basil é o caso de Tilly, uma gata que ficou quase duas décadas sumida na Escócia. Ela foi reencontrada mês passado, graças, mais uma vez, ao microchip — é o que relata reportagem do Daily Record.Tilly desapareceu em 2004, após ter se mudado com sua tutora, a enfermeira veterinária Kim Collier, da Inglaterra para a Escócia. A gata foi encontrada na mesma cidade em que havia sumido, Midlothian, com cerca de 100 mil habitantes.
A gata foi localizada por uma ONG, que fez a leitura do chip e ligou para Kim. Mesmo após 17 anos, ela nunca havia perdido a esperança de se reencontrar com Tilly e sempre manteve atualizado o telefone e o endereço no banco de dados da empresa de microchip.
“A ONG me ligou do nada perguntando se eu tinha uma gata chamada Tilly”, diz. “Foi uma sensação muito estranha, eu realmente não sabia se estava indo ou vindo. Meu mundo virou de cabeça para baixo… Mas no bom sentido.”
Tilly, que completa 20 anos em 2022, sofre de um tumor na bexiga e está chegando ao fim de sua vida. Ela agora está recebendo cuidados paliativos na clínica onde Kim trabalha.”O principal é que ela está segura e os veterinários aqui estão dando um cuidado incrível. Sabemos que o resultado não é ótimo, mas eu só quero deixá-la confortável.”
De cada 100 tutores, 15 perdem seus gatos, diz pesquisa
Pesquisa realizada em 2010 e publicada em 2012, nos Estados Unidos, apontou que 15% dos donos de gatos relataram já ter perdido algum de seus bichanos. E que de cada quatro felinos desaparecidos, um (25%) nunca mais voltou para casa.
O levantamento foi feito por pesquisadores da Sociedade Americana para a Prevenção da Crueldade contra os Animais e da Universidade Estadual de Ohio. Eles realizaram mais de mil entrevistas com tutores. Uma das conclusões foi que a maioria dos gatos desaparecidos voltou para casa por conta própria. E que o maior obstáculo para a baixa taxa de localização de felinos desaparecidos é a falta de identificação nos bichanos.
Enquanto a taxa de recuperação de gatos desaparecidos ficou em 75%, os pesquisadores identificaram que o índice de localização de cães era de 93%. O motivo dessa diferença estava no uso de coleira com identificação nos cachorros — acessório raro nos bichanos.
Como funcionam os microchips para gatos
O microchip tem o tamanho de um grão de arroz e é inserido pelo veterinário sob a pele do gato com uma agulha — há versões ainda menores. E não, o aparelho não tem função de GPS. O dispositivo fica alojado nas costas, entre as escápulas do bichano. No Brasil, o preço da aplicação — sempre feita por um médico veterinário —, varia de cidades e regiões, girando em torno de R$ 100 a R$ 200.
Cada microchip possui um número de série, que é captado por um leitor. Esse número, ao ser colocado em um sistema de consulta, fornecerá dados do animal e seus tutores. Daí a importância de manter esse banco de dados sempre atualizado.
Apesar de ser uma ferramenta importante, o microchip não é perfeito. O dispositivo pode se deslocar com o passar dos anos, indo para alguma parte do corpo onde os leitores não consigam rastrear os dados. E há a limitação de que, por ainda não ser um dispositivo popularizado no Brasil — em vários países é obrigatório — há veterinários que sequer têm o aparelho para fazer a leitura dos dados.
A veterinária Thalita Amaral dá mais detalhes, em um vídeo no YouTube, sobre como funciona o microchip para gatos.
Coleiras com GPS para gatos
Para tutores de gatos acostumados a usar coleiras, existem opções de rastreamento em tempo real. São vários os modelos e formatos e todos funcionam bem em cães, mas alguns podem ficar pesados ou desconfortáveis para o bichano, o que exige paciência na escolha.
Esses aparelhos que oferecem rastreamento GPS de gatos têm, também, grande variação de preço, por conta das diferentes tecnologias. Boa parte dos acessórios funciona com bateria, é à prova d’água e tem a opção de disparar um alarme no celular caso o felino se distancie demais. Modelos de GPS para cães e gatos podem ser comprados neste endereço.