Gatos híbridos semisselvagens podem ser banidos do Reino Unido, após a popularização desses bichanos impulsionada pelas redes sociais. E o motivo seria a preocupação das autoridades com a saúde desses felinos, que demandam cuidados especiais.
De acordo com o The Guardian, o governo britânico planeja uma revisão das regras de licenciamento de criadores de gatos. A atual legislação do Reino Unido não faz menção a cruzamentos de felinos exóticos com gatos domésticos. Essa hibridização pode entrar no radar na próxima atualização.
O motivo para essa revisão nas regras de criação de gatos seria o despreparo de alguns tutores, empolgados com a beleza desses gatos híbridos nas redes sociais. Os gatos Savannah, por exemplo, — a raça é recente no universo felino, sendo reconhecida a partir de 2001 — não só pela beleza, como também pelo preço, viraram sinônimo de ostentação e luxo na internet.
Na Inglaterra, um Savannah F1, que é resultado do cruzamento do Serval Africano com uma gata doméstica, chega a custar 20 mil libras. Daria para comprar um carro zero quilômetro no Brasil com esse dinheiro.
Justin Bieber e Hailey Bieber compraram dois filhotes de gato Savannah por US$ 35 mil. Sushi e Tuna (atum, na tradução) ficaram aos cuidados do casal por um período, mas cabaram sendo levados para um outro lar, segundo o Daily Mail.
De acordo com a publicação, o que teria impedido os bichanos de ficarem com o casal foi um contrato de aluguel, que não permitia animais na casa.
Um dos gatos da raça Savannah, Tuna, um macho, está em um gatil, em Los Angeles, na Califórnia (EUA) e foi colocado à venda por US$ 7 mil. “Tuna precisa de um proprietário de Savannah experiente que seja capaz de lhe dedicar o tempo, o cuidado e o lar que ele
merece e precisa”, pede o anúncio do gatil.
Gatos híbridos e o problema do abandono
A preocupação das autoridades é que apesar de endinheirados, muitos compradores desses gatos podem não ser capazes de dar a vida que esses felinos demandam. “Nos últimos anos, a demanda pelos gatos híbridos, como o Savannah, cresceu. Sem surpresa, esses gatos não são adequados para um ambiente doméstico, devido ao seu DNA de gato selvagem, seu tamanho e seus instintos predatórios muito fortes”, disse ao The Guardian um representante da ONG Battersea. A entidade resgata animais de rua desde 1860.
Além de nem sempre os compradores estarem aptos a ter um semisselvagem em casa, há o problema de criadores clandestinos atraídos pelo lucro com esses bichanos cobiçados. “Vimos tantos exemplos de animais sendo criados por sua aparência e não por bem-estar, apresentando vários problemas. É vital que reprimamos essa prática e impeçamos que mais animais sofram nas mãos de criadores indiscriminados”, acrescentou o representante de resgate de animais.
A reportagem também cita que os abrigos já estão encontrando, com alguma frequência, gatos da raça Bengal abandonados nas ruas de cidades inglesas. Esses belos bichanos são resultado do cruzamento de gatos domésticos com leopardos asiáticos. E o motivo da crueldade do abandono é que alguns compradores, deslumbrados com a pelagem exótica, se irritam com a hiperatividade dessas lindezas.
Outra ONG, a Wildheart Trust, que abriga felinos exóticos vítimas de maus-tratos, também diz que é necessária a regulamentação dos gatos híbridos. “Uma ação legislativa urgente para tornar essa forma de hibridização ilegal impedirá o sofrimento de animais e mitigará futuras ameaças às populações selvagens de felinos exóticos. Vemos em primeira mão os danos físicos e psicológicos infligidos aos animais pelas mãos dos humanos”, disse um representante da instituição ao jornal inglês.
A Sociedade Real para a Prevenção da Crueldade aos Animais (RPCA, na sigla em inglês), faz coro à lista daqueles que pedem a regulamentação dos gatos híbridos. Uma preocupação, além dos bichanos, é com os felinos selvagens utilizados nos cruzamentos. Para as entidades, com a forte demanda, cresce o número de criadores clandestinos, e as condições dos animais nesses locais não fiscalizados preocupa.
“Temos preocupações sobre a criação, o comércio e a manutenção de animais selvagens – ou ‘exóticos’ – mantidos como animais de estimação, incluindo aqueles classificados como animais selvagens perigosos, como o Serval. Acreditamos que os animais só devem ser mantidos em cativeiro se o bem-estar puder ser garantido e isso pode ser muito desafiador”, avaliou uma diretora da entidade.