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Veja a situação dos gatos e seus tutores na guerra na Ucrânia

“Eu trouxe dois gatos. Onde é minha casa? Eu não sei agora. Estou sentado aqui na estação de trem e esta é minha casa agora”, diz o aposentado Ivan Dryka. Ele viajou mais de 700 quilômetros, da cidade de Odessa, no sul da Ucrânia, até Lviv, próximo à fronteira com a Polônia, carregando apenas seus dois gatos dentro do agasalho.

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O aposentado ucraniano Ivan Dryca viajou por mais de 700 quilômetros com seus dois gatos, fugindo da invasão russa. Foto: Rádio Svoboda

O idoso, que teve o depoimento registrado pela Rádio Svoboda, é um dos exemplos de pessoas que, na fuga da guerra na Ucrânia, não deixaram seus companheiros de patas para trás. 

A Ucrânia detém a nona maior população felina do mundo, com cerca de 7,5 milhões de gatos. O Brasil é o quarto, com 12,5 milhões, conforme cálculo do WorldAtlas. A guerra que já levou mais de 3 milhões de pessoas a deixarem suas casas também tem consequências duras para os animais.

Cenas de pessoas se escondendo em metrôs abraçadas aos seus pets, ou deixando suas casas levando seus companheiros peludos nos braços, giraram o mundo e são uma das faces da invasão russa na Ucrânia. 

Recém-chegada na Polônia, após andar por 60 quilômetros para fugir da zona de guerra, uma ucraniana não conseguia mais parar em pé e recebeu, de voluntários, uma marmita e repouso em uma cadeira de rodas. Em seu casaco, veio junto sua filha tricolor, a gata Crimsee. A cena foi registrada pela organização People for the Ethical Treatment of Animals (Peta).

Diz o texto acima: “Esta corajosa mulher caminhou cerca de 60 quilômetros com sua amada gata. Ela estava tão exausta que não conseguia mais ficar de pé depois de cruzar a fronteira. Ambas estão seguras agora e estão recebendo apoio da Peta Alemanha.”

Mas não são todas as pessoas que estão conseguindo deixar o país com seus pets. Entidades de resgate e acolhimento de animais vivem um momento caótico na Ucrânia. Imagens de soldados ucranianos dando atenção aos bichanos também têm se tornado frequentes.

Apenas na estação ferroviária em que o aposentado do início deste artigo carregava seus dois gatos à espera de um destino, 30 animais foram abandonados apenas na primeira semana de guerra. Segundo pessoas que trabalham no local, cães de grande porte não foram aceitos nos trens superlotados com refugiados. Muitos gatos, estressados, escaparam de seus donos que aguardavam embarque para fugir do país e acabaram deixados para trás. 

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Soldado ucraniano segura gato em frente a prédio residencial destruído em ataque. Foto: Facebook/ Dolly’s Legacy Animal Rescue

Muitos animais, sem entender, regressam às plataformas da estação ferroviária após a fuga, em busca dos tutores. “Todo dia, dois gatos vêm, sentam e apenas observam. Não comem nada. Têm apenas lágrimas nos olhos”, diz Lyubov Kaldysheva, funcionário da Rescue Animals Home, entidade que tem resgatado animais deixados por refugiados na estação.

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Refugiada ucraniana ao lado de seu gato dentro de um trem, em fuga da guerra. Foto: Facebook/UAnimals

“Quando um animal é abandonado, ele simplesmente morre. Porque não está adaptado às condições fora de casa. Os animais abandonados apenas se escondem. Eles estão sob grande estresse, em pânico com o que aconteceu com eles”, narra Kaldyshev.

Orest Zalypsky, chefe da Rescue Animals Home, também relatou à Rádio Liberdade o sofrimento que os animais vêm passando. “A maioria dos animais é deixada por refugiados de Kharkiv e Kiev quando viajam para o exterior via Lviv”, conta. 

Mesmo lotadas, ONGs recolhem animais diariamente na guerra na Ucrânia

Na primeira semana de guerra, em um único atendimento, a Rescue Animals Home resgatou 18 gatos abandonados em um apartamento em Lviv. A antiga dona dos animais ligou para a entidade, logo após cruzar a fronteira com a Polônia, e confessou que havia abandonado os bichanos. 

Outra instituição, o Centro de Ação ADA, localizado na cidade polonesa de Przemysl, fronteira com a Ucrânia, vive dias de caos sem precedentes. Isso porque, diariamente, voluntários têm cruzado a fronteira rumo ao país vizinho, em busca de animais que ficaram sem seus tutores, em razão da guerra. As imagens e os relatos na página da instituição no Facebook expõem o tamanho do drama.

Veja um dos vídeos da ONG polonesa, abaixo:

Instituições de vários outros países, como Inglaterra e Portugal, também já se prontificaram a fazer missões para resgatar animais deixados na zona de guerra. 

Já a Peta, presente em vários países, organizou o envio de 20 toneladas de ração para cães e gatos afetados pela guerra na Ucrânia.

Hungria, Polônia e Romênia, países vizinhos da Ucrânia, também suspenderam regras que exigiam apresentação de documentos veterinários dos animais que chegam com os refugiados.

Polícia ucraniana faz apelo para que bichos não sejam abandonados

Com a disparada de casos de abandono, surgiram apelos da Polícia Nacional da Ucrânia para que a população não deixe seus animais. Ucranianos têm recebido por aplicativos de mensagens esses alertas das autoridades — como por meio do canal do Telegram Ukraine Now. 

Entre as recomendações da polícia ucraniana aos cidadãos está que, ao fugirem da guerra, levem seus animais e ração suficiente, providenciem coleiras com identificação e peçam ajuda de terceiros se não tiverem carro para transportar os pets.

Sites de notícias ucranianos também têm informado a população sobre quais abrigos estão recebendo animais. O site Verdade Ucraniana fez uma reportagem listando o que os tutores não podem esquecer ao fugir da guerra com seus pets. Entre os itens essenciais, além de ração e caixa de transporte, a listagem inclui ataduras, seringas, tesouras e medicamentos para o caso de os animais se ferirem nos ataques.

Gatos de criadores russos são banidos de exposições por entidade internacional

A repercussão da guerra entre Rússia e Ucrânia gerou impactos no mundo felino: a Federação Internacional de Gatos (FIFe) anunciou que gatos russos estão banidos de exposições internacionais da entidade.

A organização, que se denomina “Nações Unidas das Federações de Gatos”, disse em nota estar “chocada e horrorizada” que as forças russas invadiram a Ucrânia.

“Nenhum gato de expositores que vivem na Rússia pode ser inscrito em qualquer feira da FIFe fora da Rússia, diz a nota. “Além disso, nossos colegas criadores de felinos ucranianos estão tentando desesperadamente cuidar de seus gatos e outros animais nessas circunstâncias difíceis”, informa a entidade.

A federação, criada há mais de 70 anos, também proibiu que gatos criados na Rússia sejam registrados em seus livros de pedigree. A entidade anunciou ainda que vai doar dinheiro aos refugiados ucranianos.

A FIFe está em 40 países, incluindo o Brasil — representada pela Federação Felina Brasileira (FFB). A entidade realiza mais de 700 exposições pelo mundo a cada ano, com mais de 200 mil gatos expostos.

A federação brasileira informou que apoia a decisão e também vai enviar dinheiro aos refugiados: “Estaremos nos juntando a este esforço enviando uma doação, em conjunto com a FIFe”, diz a FFB.

Cafeteria com 20 gatos resiste à guerra na Ucrânia

Em Lviv, cidade no oeste da Ucrânia com 800 mil habitantes, uma cafeteria com 20 gatos está resistindo à guerra. O Cat Cafe Lviv está aberto todos os dias, das 9h às 21h, para oferecer um alívio momentâneo à dura realidade além das quatro paredes da cafeteria. 

Serhii Oliinyk, proprietário que comanda o negócio com sua companheira, Martha, disse à Newsweek que continua abrindo as portas da cafeteria para oferecer “comida quente e emoções positivas” para quem precisar. 

“Quando descobrimos que a guerra havia começado em nosso país, percebemos que nunca sairíamos, que este era o único lugar onde poderíamos nos ver no futuro”, afirmou Oliinyk à publicação. “Então, tentamos continuar fazendo as coisas que fizemos todos os dias — preparando comida e bebida para as pessoas que vieram ao nosso café para ficar de bom humor graças aos nossos 20 gatos.”

A cidade de Lviv, onde está a cafeteria, fica próxima da fronteira com a Polônia e se tornou caminho de muitos ucranianos que vão atravessar para o país vizinho. O município é ponto de parada para compra de suprimentos. 

O Cat Cafe Lviv existe há seis anos e os gatos vivem no estabelecimento desde os 4 meses de idade e estão totalmente habituados à presença dos clientes. “Eles são como uma família”, disse Oliinyk ao The Dodo.

Ele deu início a uma campanha para ajudar os soldados ucranianos, com uma conta que recebe transferências. Metade do valor arrecadado será doado ao exército.  

O empresário afirmou que existe um porão na cafeteria, que servirá como um abrigo em caso de alerta de ataque aéreo para clientes, funcionários, ucranianos e os gatos.

“Estamos vivos”, diz perfil de gato mais famoso da Ucrânia

O gato mais famoso da Ucrânia está vivo! Stepan, o felino fofo e melancólico do Instagram e do Tiktok, tranquilizou seus seguidores em 17 de março, após um hiato de uma semana. Stepan e sua tutora Anna agora estão na França, após passarem dois dias se escondendo de bombardeios em um porão e ficarem uma semana sem energia elétrica. A fuga da zona de guerra foi por trem, numa viagem de 20 horas de duração.

Stepan é famoso nas redes sociais e soma 1 milhão de seguidores no Instagram e 1,1 milhão no Tiktok. Provavelmente, você já cruzou com um vídeo do bichano, que aparece sentado com o cotovelo na mesa, ao lado de um drink. Tudo isso com uma playlist marcante, variando de Lionel Richie a Chris Isaak (com a icônica “Wicked Game”). Parece que ele está curtindo uma fossa em um bar, com luzes coloridas e olhar triste pelo crush.

Os vídeos fofos e bem humorados de Stepan fizeram fãs em todo o mundo, que desde o início da guerra na Ucrânia demonstram preocupação com a segurança do bichano e da sua família. No perfil do Instagram, já nos primeiros dias de guerra surgiram centenas de mensagens de gateiras e gateiros apreensivos, querendo notícias e desejando que todos estivessem bem. 

Kharkiv, a cidade onde Stepan vive com a família, fica no leste da Ucrânia é a segunda maior do país, e está sob ataque Russo. Foi lá que um prédio do governo, na Praça da Liberdade, foi atingido por foguetes no dia 1º de março. Na ocasião, ao menos 10 pessoas morreram e 35 se feriram.

Tuíte do jornal The New York Times informa sobre uma grande explosão na Praça da Liberdade, em Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, em frente ao prédio administrativo da cidade.

“A Ucrânia não quer guerra. Povo da Ucrânia quer paz”, escreveu Anna, tutora de Stepan, no primeiro dia do conflito, em 24 de fevereiro.

Anna conta que bombas caíram próximo à casa dela, e as janelas chegaram a tremer. Imóveis vizinhos foram destruídos nos ataques. Dois projéteis caíram no quintal.

Veja o relato da tutora de Stepan, publicado na tarde de 16 de março, no Instagram:

No dia 24 de fevereiro, de manhã, estávamos dormindo em casa. Às 5 da manhã, ouvimos uma explosão, e eu nem entendi o que era. Depois de um tempo, meia hora depois, houve mais explosões, as janelas tremeram. Dei um pulo e entendi que algo terrível estava acontecendo! O ataque e bombardeio de Kharkiv (especialmente no norte de Saltovka, onde moramos). Percebemos que a guerra havia chegado à nossa casa.No primeiro dia da guerra foram as destruições mais graves. Os projéteis atingem as casas vizinhas todos os dias; as casas queimaram diante de nossos olhos. Por algum milagre, nossa casa permaneceu segura exatamente por uma semana. Nossa casa também foi danificada no oitavo dia quando um projétil voou para a varanda dos vizinhos. Não houve fogo. Graças a Deus! Em duas ou três dúzias de apartamentos, todas as janelas se quebraram. Além disso, dois projéteis caíram no nosso quintal, em frente à casa.Passamos duas noites no porão. Ficamos sem eletricidade por uma semana. Então conseguimos sair da cidade. Os voluntários de Kharkiv nos ajudaram, levando-nos à estação ferroviária. Pegamos o trem Kharkiv – Lviv (em 20 horas chegamos a Lviv). Depois seguimos até a fronteira com a Polônia. Na fronteira, ficamos em uma fila em uma passagem de pedestres. Havia muita gente (4 a 5 mil pessoas). Após 9 horas, cruzamos a fronteira.Quando chegamos à Polônia, recebemos ajuda da Associação Mundial de Influenciadores e Blogueiros de Mônaco. Eles nos ajudaram a chegar à França para esperar o dia em que poderíamos voltar para casa. Estamos bem agora. Preocupamo-nos muito com nossos parentes na Ucrânia e faremos o melhor que pudermos para ajudar nosso país.

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